A família de Ilaria

A família de Ilaria

Somos pais de Ilaria, uma esplêndida jovem de 23 anos que foi para o céu em 17 de dezembro há dois anos, pouco antes do Natal, junto de sua amiga Lucia por causa de um terrível incêndio doloso em um hotel, em Paris, para onde tinha ido depois da sua formatura. Ninguém pode imaginar, se não provou pessoalmente, a profunda dilaceração que um acontecimento tão trágico e repentino provocou dentro de nós, a vida parou e um grito de dor da terra subia ao céu para que alguém pudesse acolhê-lo: “Por quê?”

Era um momento no qual pensávamos realizar tantos bons projetos para a nossa família: a formatura de Ilaria, a transferência para a cidade para acompanhar melhor os nossos filhos, o 25º aniversário do nosso casamento que selava entre nós um caminho de amor e fidelidade, mas em apenas um instante, naquele terrível dia, as nossas vidas foram reviradas. Tudo desmoronou e cada um de nós perdeu os próprios pontos de referência. Deus que sempre foi o nosso fiel companheiro de viagem, a nossa estrela polar, a nossa segurança, por que tinha permitido um acontecimento tão cruel, por que não tinha escutado as nossas orações, as orações de Ilaria que tinha vivido a sua jovem vida sempre à luz dos valores cristãos?

A dor nos esmagava, a única mola que nos fazia reagir era a raiva e junto o desejo de conhecer a verdade sobre aquele acontecimento trágico que nos tinha tirado a nossa amada filha. O irmão tinha se fechado na sua dor e silenciosamente se esforçava para estar próximo a nós. Mas na nossa família tinha caído uma noite dolorosíssima. Cada um de nós se dirigia a Deus com muita raiva no coração, implorávamos a Ele que nos explicasse o porquê de tanta dor, o projeto que tinha para nós, para cada um de nós. Muitas pessoas foram solidárias a nós, outras ao contrário, entre as quais muitos amigos queridos, incapazes de compreender o momento tremendo que estávamos passando se afastaram. Também alguns religiosos procuraram confortar-nos indicando-nos o único caminho possível para sair do abismo em que tínhamos caído. Mas aquilo que aceitávamos com a mente não descia no coração. Pensávamos que ninguém no mundo poderia entender verdadeiramente a nossa dor, quem sabe talvez algum outro pai que tivesse vivido o mesmo drama. Sentíamos uma necessidade de encontrar outras famílias que falavam a nossa mesma linguagem.

Um dia alguém deixou sobre a mesa de casa um pequeno livrinho sobre a Via crucis (o Caminho da Cruz ou a Via Sacra) “La croce splende” (a cruz resplandece) que nos permitiu conhecer a realidade “Figli in Cielo” (Filhos no Céu) e mesmo achando difícil sair de casa partimos rapidamente para o encontro de oração que havia na cidade de Loreto. Era setembro de 2002, nove meses depois da partida de Ilaria.

Foi uma experiência única. Naqueles dias intensos, carregados de emoção, em contato com tantos outros pais provados pela mesma dor começamos a avistar uma luz nova na nossa vida. A adoração silenciosa com os rostos dos nossos filhos aos pés do altar nos levava à realidade que agora estávamos vivendo: eles estavam sempre conosco e exatamente ali, na comunhão com Jesus, poderíamos reencontrá-los. O caminho a percorrer estava ali, não haviam outros.

Somente o mistério da Cruz pode dar uma luz salvífica ao sofrimento do homem. Assim como hoje estamos participando da sua Paixão, assim participaremos da Glória da Ressurreição. A participação nos encontros de “Figli in Cielo” nos permitiram sair do nosso individualismo.

A nossa dor assumiu uma dimensão universal para partilhar com os outros e para oferecer pela realização do plano salvífico de Jesus Cristo pela humanidade.

A estrada não é fácil porque existem ainda tantas resistências e a angústia facilmente cresce, mas o caminho prossegue; a oração constante, a escuta da Palavra, a Eucaristia, quase cotidiana, firmam de novo a nossa vida de casal.

A semana de espiritualidade vivida em Rocca di Papa em junho passado foi uma oportunidade esperada e desejada. Ali sim abriram-se novos horizontes, fomos conduzidos às proximidades do Mistério, fazendo nascer em nós a necessidade de alimentar-nos diariamente da Palavra.

Mas foi uma peregrinação a Medjugore com o grupo de pais de “Figli in Cielo” a firmar para nós uma etapa decisiva. Por meses procuramos preparar-nos para o encontro com a Rainha da Paz para pedir a paz do coração, a capacidade de perdoar e de abandonar-nos à vontade de Deus e rapidamente Maria, Mãe cuidadosa ns concedeu uma primeira graça: veio conosco também nosso filho com a noiva e foi uma alegria ver estes jovens reaproximando-se de Deus, viver com fé os vários encontros de oração e de adoração, aproximar-se do sacramento da Reconciliação. Naquele lugar bendito conseguimos ter paz no coração e reconstruir um novo relacionamento sereno entre nós.

Agora começamos na diocese os encontros com as famílias que viveram a mesma experiência que nós para partilhar com elas a mesma consolação que recebemos.

O caminho a seguir é difícil e sempre em subida, tem seus golpes de prisão, mas estamos certos de ter encontrado o caminho e que Ilaria nos está acompanhando junto com todos os seus amigos no Céu para ser pais novos em uma bela e grande família que abraça terra e céu.

(extraído de “Indisparte”, periódico italiano semestral de espiritualidade promovido por “Figli in Cielo” I ano I – n.1 – dezembro de 2003).

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